Verão de 93
Abri os olhos, estou na cama dos meus pais, deitada entre eles. É verão, então o circulador de ar Arno está ligado, discreto como uma hélice de avião. - Mãe, já é de manhã. Tá na hora! Estamos nos anos 90, então não tem iPhone do lado da cama. Com um olho colado e o outro aberto, ela pergunta que horas são. Eu vou escorregando até a ponta da cama, dou um pulinho e corro pra cozinha. Temos um microondas novinho que ninguém tem - presente do meu avô moderníssimo que ofereceu pra minha mãe isso, ou uma TV com VHS embutido. Mulher visionária! O microondas era meu relógio, e já eram cinco da manhã. - Mãe (ela voltou a dormir). Mãe! São cinco horas. - Pelo amor de Deus, Catherine. É muito cedo! Eu vou pra sala, assistir Pequenas Empresas & Grandes Negócios, ou Globo Rural, até a primeira desavisada - uma das minhas irmãs - levantar pra fazer xixi e eu a atacar, perguntando: já tais pronta? Minha mãe levanta da cama, com uma camisola meio rosa, meio pêssego, com as alças amarr