Faz tempo


As vezes morro de saudades! E as vezes até consigo matar a desgraçada. Mas não adianta, sempre sobra uma ou duas gotas aqui dentro. A gota de hoje que insiste em fazer cócegas na garganta, é a nostaugia que me dá lembrar de quando eu era pequena.
Só criança passa duas horas chorando na frente de uma motoca "Bandeirante", porque descobriu um furo na roda. E só eu pra chorar por um furo numa roda de plástico. Ainda bem que alguém me explicou que buraco nenhum iria estourar a pobrezinha. Catherine-cabeça-dura do jeito que sou, iria estar até hoje me lamentando pela motoca perdida.
Só criança pra assustar a mãe com um pseudo afogamento numa piscina "Mor". Só a minha mãe pra acreditar!
Só criança pinta com esmalte vermelho as unhas do "Peposo" preferido da irmã. Só a minha pra me fazer aprender abaixo de safanões que no que não é nosso, não se mexe.
Só criança pra dançar freneticamente ao som de "É o Tchan" e se sentir a própria Sheila Carvalho. Só minha vizinha pra me acompanhar nessa, e cumprir brilhantemente seu papel de Carla Perez.
Só criança coloca calça na cabeça e finge ter cabelo comprido igual ao da Paquita Pituxa da tv. Retiro o que eu disse. Só eu mesmo pra fazer uma coisa dessas.
Infância é bom de lembrar. É saudade boa de sentir. É falta de responsabilidade mais sem culpa do mundo. É um brinca-come-dorme sem fim. É cara de sono e pijama o dia inteiro, é acampamento na casa dos primos, é comida de vó todo domingo, é viagem nas férias, é tio apertando bochechas gordas, é calcinha de bichinho, é cabelo esticado com gel no desfile de sete de setembro, é foto com cara suja de chocolate, é chorar ouvindo Lua de Cristal, é achar graça dos Trapalhões, é pipoca e guaraná, é pouco se importar com a pantufa na rua, é sentar sozinho no banco do ônibus fingindo ser adulto, é acabar com o batom vermelho e o salto da mãe...
Talvez a infância tenha passado rápido demais. Talvez seja assim mesmo: o que demora a passar, cansa e perde a graça. E se for assim, minha vida tá passando com a quinta marchar engatada. Nada a reclamar e tudo com o mesmo ritmo de dezessete anos atrás.
Vai ver só deixei de me fazer de morta na piscina, de pintar os ursos e de dançar ao som de É o Tchan. O resto? Sem tirar nem por!

Ainda bem.

Postagens mais visitadas