Tudo meu.

Durante vinte anos, todos os dias vinte e sete de dezembro são meus. Não só pelo fato de ser meu aniversário.. É como se eu tivesse tomado posse desse dia. Todos os shows marcados pra esse dia me dão a impressão de que são organizados por mim, contratados por mim. Que ridículo! Eu não tenho culpa, mas meu umbigo é o centro das atenções nesse dia, desde oitenta e oito. Não que eu goste...
Uma vez falaram: "aproveita, o dia é teu." Acho que eu levei a sério demais.
Quando eu completei dezesseis anos, ganhei da minha irmã um ingresso pro show do Jota Quest, no Lagoa Iate Club, eu acho. Era minha estréia na vida noturna, já que a partir daquele dia eu poderia entrar nas baladas sem ser barrada (que ridículo, de novo!). E foi como se o Rogério Flausino tivesse cantando na minha festa, pra todos os meus amigos, e deixasse de ser o Rogério para ser o Rogerinho. Claro, era meu dia! E como se não bastasse ele estava na minha cidade! Uau, era realmente tudo meu. E esse deve ter sido o presente mais caro que alguém já me deu. Imagina, contratar o Rogerinho pra minha festa deve ter acabado com toda La Plata da minha irmã. E foi com certeza o mais inesquecível.
Ano passado eu fiz uma rave, pra comemorar os dezenove. Nossa, essa foi o ápice! Umas cem pessoas lotando o quintal escuro de uma casa de praia, iluminado apenas por luzes coloridas e lasers verdes. A festa começou as seis da tarde e foi até as dez na manhã do dia seguinte, com míseros três sobreviventes! Aquilo era tudo tão meu quanto o show que eu ganhei "de presente" da minha irmã três anos antes. Mas dessa vez, era como se eu fosse o Jota Quest...Que sucesso!
Graças a Deus meu egocentrismo se limita a um dia por ano. E esse dia, por sorte é hoje e não dezesseis ou dezesete de janeiro. Imaginem vocês se eu (ou alguém) tivesse de pagar o Planeta Atlântida todo...

Com licença...Tenho que aproveitar o sol, que hoje também é meu.


Foto: Getty Images

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