Bases de concreto.


São cinco da manhã. Ela ainda rola na cama, sem pregar os olhos. É como se o coração não desse trégua, não parasse com aquela acelaração constante multiplicada por quatro, nada normal pra ela que levava uma vidinha calma, sem muitos sustos e surpresas.
Ela fugiu a vida toda do amor. Cada esquina que ele ameaçasse aparecer, era uma esquina cortada do roteiro.
Foi quando ela menos esperava, no estilo Ronaldinho de driblar, que o amor deu um olé nos mapas e roteiros planejados.
Não era um homem qualquer, daqueles que ela estava acostumada a usar e abusar. Ele a olhava enquanto falava, e olhava fundo. Era um olhar tão penetrante que ela tinha medo que ele pudesse ler seus pensamentos bem na hora em que pensou como era linda aquela bunda.
Sempre preferiu os loiros aos morenos. Os tímidos, sem muito o que falar, pra que não houvesse chance de ela sair do comando.
Ele? Moreno, falava alto, tinha histórias pra contar. E em nenhum momento ele deixava de olhar fixamente nos olhos castanhos e medrosos dela.
E agora, pra onde fugir? Ela deixou aquele sentimento ir muito além da esquina. Foi penetrando, invadindo, fixando, criando raiz. Mas a fuga ainda é um plano! Ela não vai arriscar perder o controle...
Foi quando ela descobriu o lado bom de ter alguém ao seu lado a noite, velando seu sono, mesmo com batimentos cardíacos anormais e acelerados. E então o homem que balançou suas bases tão bem construídas estava ali, com uma respiração forte, como quem diz: "durma, eu estou aqui".
Ela respirou fundo, encostou sua cabeça naquele peito aconchegante, e a partir daí ela entendeu que arriscar vale apena quando se trata de amor.

Postagens mais visitadas