Sonhos de padaria.



- Bom dia dona Mônica, como vai? Lindo sol, não?
- O mesmo de sempre, Maxuél.
- É...É que é Maximiliano e não Maxuél.
- Hum!
- Bom, é..Está aqui, eu já tinha reservado seus sonhos fresquinhos. Sabe como é, essa hora é...
- Obrigada, era só isso.
Já era rotina. Mônica entrava na padaria com apenas três objetivos: jornal, sonhos e uma média sem açucar.
Max tinha todos os objetivos do mundo. Eram doses cavalares de sorriso, agrados e simpatias diárias. E em três anos e meio ele não ganhara nada além de R$ 4,80 que Mônica consumia. Nem um bom dia, um até logo.
Que tática usar? O que falar? Será que é meu bafo? Tô fedido? Tudo, absolutamente tudo já havia passado pela cabeça do pobre coitado.
Na cabeça dela? Só Deus sabe. Ela mal olha pra cima, está sempre cuidando dos ponteiros do relógio. Deve estar sempre atrasada para o trabalho.
Ah, mas é isso que o enlouquece! É muita indiferença numa mulher só. Como pode?!

- Cara, eu não sei nem o sobrenome dela. Não sei onde ela mora. Ela nem olha pra mim!
- Bá, tu é louco Max! A guria deve ser até casada. Para com isso, cara. Esquece!
- Não te mete, Bola. Tu não sabe o que é amor.
- Cai na real, véio...O amor é um bicho desgraçado! Não entra nessa.

Meses depois Max recebeu uma proposta de emprego melhor. Resolveu sair de Porto Alegre, respirar novos ares, esquecer aquela cidade que já tinha o perfume de Mônica impregnado em todos os cantos. Esquecer o amor! Vai ver seu amigo tinha mesmo razão. O amor não existe!
Na manhã seguinte Mônica estendeu as mãos, sem olhar para cima (sempre olhando para o relógio) e resmungou como fazia todos os dias:
- O mesmo de sempre!
Foi quando ela ouviu uma voz feminina, fina, atrapalhada e nervosa.
- Desculpa senhora, o que você costuma pedir? É que sou nova aqui.
- Sonhos. Isso, sonhos!
- Perdão, os sonhos acabaram a alguns minutos. A próxima fornada é daqui a uma hora.
- Hm. Bom, então chame o Maxuél, ele sempre guarda meus sonhos. Tenho certeza que ainda há um saquinho por aí.
- Ah, sim! Então a senhora não soube? O Max pediu demissão. Saiu da cidade! Eu entrei no lugar dele e ac...

Boquiaberta, Mônica saiu da padaria deixando a menina falar sozinha. Foi sem rumo, entrando em ruas erradas, tropeçando nos próprios pés. E esse foi o pior dia de sua vida. O homem moreno, alto, olhos claros, simpático e educado pelo qual ela foi apaixonada durante três anos e meio em silêncio, havia ido embora. Ela nunca teve coragem de olhar para cima, nunca conseguiu o chamar de Maximiliano, quiçá de Max!
Mônica odiava sonhos de padaria. Não trabalhava pela manhã, o que fazia do relógio um simples acessório de apoio contra a timidez. Não morava naquele bairro. Era alérgica a jornais. Não bebia café sob hipótese alguma. Era tudo uma grande desculpa para ouvir aquele doce bom dia.
Era amor! E nunca vai deixar de ser...



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