Manhê


- Alô, mãe?
- Oi, filha. Como você tá?
- Tô indo.
- Indo? Tá indo trabalhar?
- Não, mãe. Não to indo trabalhar. Na verdade eu...Ah, vou falar logo antes que eu perca a coragem. Eu pedi demissão. Pedi, pedi mesmo! E digo mais! Lembra da Ana, aquela mal amada do meu departamento? Então...Mandei ela tomar lá onde é mão única. Mentira. Mandei ela enfiar o dedo e rasgar em cruz. Eu sei mãe, eu sei que você acha isso um absurdo e que eu devia ter paciência. Eu juro que tentei! Até tomei uns remédios tarja preta pra conseguir dormir, me acalmar, mas não teve jeito. Aí mãe, ai, me desculpa, eu fumei maconha mesmo. Mas eu não comprei não. Plantei, viu? Mais ecológico, menos arriscado. O Lucas, sabe? Meu namorado que você tanto adorava, ele meio que tinha uns contatos, que tinham estufa e, ah, deixa pra lá. Eu terminei com ele mesmo. Quer dizer, ele me pegou com o Junior, pronto, falei, mãe. Pegou a gente lá, fazendo um movimento. O pior é que minha menstruação não veio. Enfim, mãe, é isso aí. Não sou virgem, não sou santa, posso estar grávida do Lucas, ou do Junior, gosto de maconha e tô desempregada.
- Alô? Alô?
- Mãe?
- Oi, Bia. A ligação sumiu. Você disse alguma coisa?
- ...disse, mãe! Disse que tá tudo ótimo e que fim de semana que vem vou visitar você, tá?
- Ah que bom, filha! Traz o Lucas, viu? Um beijo. Juízo!

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