Dois dedos de veneno





Esse texto não é sobre mim. Esse texto é sobre você. Sobre os efeitos colaterais que você causa e essa ressaca que dá beber do seu veneno.
Me permite? Obrigada.

Quando você fala com propriedade sobre assuntos que me interessam, é como se ninguém entendesse daquilo mais do que você. É como se, me explicando a infinidade de números que há entre o zero e o um, você humilhasse matemáticos famosos e desse uma surra nos gênios do século passado. Consigo ver cultura até nos seus erros, se quer saber.
Mas como nem tudo são flores, preciso dizer que entrar na tua vida é coisa de gente corajosa. É como se eu tivesse a opção de dar um passeio de bicicleta em Amsterdã contemplando a vista e aquelas coisas todas, mas escolhesse uma montanha russa sem cinto de segurança, de olhos vendados. Eu simplesmente não sei em que momento vai vir o looping e não faço ideia se vou chegar viva ou não ao final do trajeto.
Você é um carro desgovernado e eu sou quem entra nele sabendo que dali só vai sair sangrando. Você é um barco furado e eu sou quem insiste em remar. Você é o cara do tempo me dizendo sem rodeios o temporal que está por vir e eu sou quem sai de casa sem guarda-chuvas, querendo se molhar. Você é dessas pessoas que a gente vai se apaixonando aos poucos, sem perceber, sem querer, e quando se dá conta já está imerso a uma espécie de areia movediça de sentimentos.
Você é tão inofensivo quando heroína e cocaína e, ao mesmo tempo, tão perigoso quanto overdose de algodão doce. Você é uma bomba prestes a explodir e eu sou quem caminha sorrindo em um campo minado. Eu sou uma alcoólatra e você é o primeiro gole. Você é um quarto escuro e eu sou quem odeia luz.

Não tenho medo de saltar a dez metros do chão rumo a uma cachoeira perigosa. Eu tenho medo é de saltar e morrer no caminho, antes de saber quão gelada era a água ou quanto tempo eu aguentaria embaixo dela sem respirar. Não tenho medo de entrar no teu carro sem freios. Tenho medo é de gostar da adrenalina e não querer mais dirigir sozinha. O problema em tomar um porre de você não é a dor de cabeça que vai me dar amanhã. É beber gota a gota sem saber quando é que você vai me envenenar de novo.
Entre você e a cura, eu escolho os sete palmos abaixo do chão. Eu escolho a morte súbita à vida lenta.

E no fim, eu opto por matar minha sede com dois dedos do teu pior veneno.
Sem gelo, por favor.

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