Poker não, é resposta




Acho que faz uns cinco anos que aprendi a jogar poker, mas foi nessa última semana que eu entendi, a duras penas, as regras do jogo. Foi quando eu precisei não pensar em nada e em ninguém que eu vi aquele ícone implorando para ser clicado na minha área de trabalho. O dinheiro era fictício, mas o que eu aprendi era tão real que quase consegui apalpar.

Paciência. Essa foi a minha primeira lição e, pra quem me conhece, sabe que essa não é uma qualidade da qual eu possa me gabar. Eu perdi todo o meu dinheiro de mentirinha na primeira rodada e sem saber de onde vinha tanta generosidade, recebia mais. E perdia de novo. E recebia mais. E perdia de novo. Até que a generosidade acabou e o aplicativo me disse para aguardar uma hora até recarregar meus créditos ou, se eu preferisse, poderia comprar dinheiro fictício com dinheiro de verdade. Já não bastasse eu estar na merda, ainda teria que pagar pra ter um novo vício? Era quase que pagar por sexo. Não, seria muita humilhação. Eu esperei e, enquanto isso, pensei na bosta de dia que havia tido.

É difícil entender o caos quando você está no olho do furacão. Por que eu não consegui aquela vaga? Por que a menina rica ganhou bolsa na faculdade e eu não? Por que aquele cara não me escolheu, se eu gostava até dos defeitos dele? Por que uma mala de dinheiro não é esquecida na porta da minha casa? Por que eu não ganhei aquela bolsa de estudos em Barcelona? Por que Diabos nada é do jeito que eu quero? A resposta é: porque não. Ou, no meu caso: poker não.

Créditos recarregados, mesa completa e dois brasileiros xingando um argentino na sala. Eu perdi de novo. Mas que merda! Eu sabia as regras do jogo, sabia que o argentino era um puta blefador iniciante e os dois brasileiros não entendiam sequer o significado de "nice hand". Foi quando eu decidi sair do olho do furacão para entender onde começava o caos. Fiquei de fora das próximas jogadas, analisei cada detalhe e esperei pela hora certa de voltar. Em menos de dois minutos eu já tinha 20 mil na conta - uma pena que não era de verdade -  e fiz todo mundo ali pagar caro para sustentar uma mentira que eles insistiam defender.

Foi com a conta cheia de dinheiro de mentirinha que eu mesma respondi à todas as minhas perguntas. Às vezes nós temos nas mãos duas cartas de merda, mas estamos tão obcecados pelo pote recheado de recompensas, que anulamos os fatos óbvios e fazemos a Katia Cega na maior cara de pau. A gente aposta todas as fichas em uma mão ruim, em pessoas que não valem dois centavos e em oportunidades medíocres. Perdemos a chance de desistir a tempo e poupar esforços inúteis. Perdemos a oportunidade valiosa de observar, aprender e esperar. A primeira vista tudo parece um negócio da China, uma chance dos Deuses ou um amor eterno e infinito. E é pensando assim que a vida te coloca de castigo por uma hora - ou quase sempre por mais tempo - até que você perceba e entenda que a ilusão de ganhar a qualquer custo te deixou cega, burra e como se não bastasse: pobre.


Hoje, 60 mil mais rica - tem jeito de trocar por dinheiro de verdade? - eu sei que nem sempre vou ganhar porque mereço ou só porque quero. Vai muito além disso. Tudo tem a hora certa para dar errado e para, enfim, dar certo. Por que? Poker sim.

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