Vinte e muitos anos



Esse ano completo vinte e seis verões. Meu Deus, vinte e seis! Conversei sobre isso com a minha mãe e, por ter o dobro da minha idade, ela achou graça das minhas neuroses. Mas vem cá, pensa comigo, eu não posso estar tão errada. Passou dos vinte e cinco já não são mais "vinte e poucos", meu amigo. Já são vinte e muitos!

 Um erro aos dezoito pesa 10g. O mesmo erro oito anos depois te afunda no chão. Não tenho tempo para escolhas erradas, para erros bobos e explicações longas. O meu barco está num ritmo tão meu que, ou você pula dele e libera peso para eu ir mais rápido, ou você fica e me ajuda a remar. Não é tão difícil entender.
A gente vai ficando mais prático, mais flexível e ao mesmo tempo, mais crítico. Não é qualquer homem que me agrada, qualquer comida que me apetece, qualquer bebida que me derruba e qualquer sofrimento que me mata. E se for pra falar de amor aos vinte e seis, peço que você puxe uma cadeira, pegue um café e tenha bastante tempo disponível.

Não fosse minha melhor amiga e seu namorado apaixonado, minha irmã de coração e seu marido impecavelmente feitos um para o outro, minha irmã do meio e a família linda que ela criou, minha irmã mais velha e seu melhor-amigo-marido, minha amiga de infância e seu casamento feliz, os trinta e cinco anos juntos dos meus pais e todas as provas de que o amor ainda funciona, juro para vocês que acharia toda essa história de amor, uma bela conversa pra boi dormir.

E finalmente, colocando em uma balança minha idade e tudo que eu já vivi, acho pouco provável que eu me orgulhasse de ser quem eu sou caso fosse, hoje, quem eu era aos vinte. Eu priorizava meu umbigo, meus planos, minha vida. Era eu, eu mesma e "minhas" coisas. Quem estivesse comigo, estava quase sempre dois passos atrás do meu ego. Eu descartava quem não conseguia me acompanhar, como quem abre mão do cafezinho depois do almoço. Pouco me importava se minhas atitudes infantis e mesquinhas iriam mudar a vida de alguém, afinal de contas, eu tinha vinte anos! Era minha hora de viver.
Quanta bobagem! A vida continua passando no mesmo ritmo e abrir mão de pessoas incríveis só me deixou mais longe de ser uma pessoa melhor. Planejar minuciosamente meu futuro me fez viver menos o presente e errar com mestria todas as minhas previsões.
Eu errei muito. E eu continuo errando mas, com seis anos a mais dentro da mala, a gente se obriga a errar menos com os outros. Se eu cair e me machucar, a culpa é só minha. Eu me viro pra fazer cicatrizar. Mas, se eu fizer alguém cair e se essa queda doer, a culpa é minha numa potência muito maior.

Se eu pudesse voltar aos vinte, agradeceria a oportunidade mas, preferiria ficar onde estou. Eu não saberia mais guiar aquele trator desgovernado que eu era. E o lado bom de ter vinte e seis anos acaba sendo justamente não ter mais só vinte e poucos. Ser mulher é muito melhor do que ser menina, afinal.

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