"Tamo junto", Gregório

Estou ensaiando escrever esse texto há mais de um mês. Escrevo uma linha, leio, apago. Reescrevo, leio, eu tomo água, meu cérebro toma outro rumo, apago. Escre...Apago. Escrev...Apago. Prometi que dessa vez vou terminar. Vou dizer o que eu tenho insistentemente tentado falar desde que soube que meu casal preferido deixou de ser um casal. Ao menos não juntos, um "sendo o casal do outro".

Não é estranho que o amor entre pessoas visivelmente conectadas acabe? Não seria como a queda da união entre o arroz arbóreo e o vinho branco, o Nescau e o Leite Moça, a pipoca e o Guaraná e todas essas coisas que - daqui do meu mundinho - parecem ter nascido juntas? Não dá pra separar Gregório da Clarice, assim como não dá pra comer pipoca bebendo Tang.

Falei pro Gregório que tinha por ele aquele sentimento de gente solidária que segura e carrega a gente depois do porre. E de fato, senti muito que por um erro geográfico Florianópolis não fosse ali, passando o túnel Rebouças.
Aquela não era - nem de longe - a melhor fase amorosa da minha vida e, saber que aquele assunto doía nele da mesma forma que doía em mim, fez com que eu agisse, com ele, da mesma forma que minha mãe age quando senta na ponta da minha cama sem saber como me ajudar. Só fiquei ali, existindo, como faz a minha mãe.
Quando ele disse que "de alguma forma, tamo junto", apoiei mentalmente à mesa um copo de cerveja quente - que eu não bebia - e pedi a conta - que não existia.

Pra mim chega! Melhor ir pra casa, Gregório. A gente se fala quando os casais legais pararem de se separar e quando isso não me fizer mais desacreditar no amor. Voltamos nesse assunto quando parar de doer ou, pelo menos, quando a geografia me permitir buzinar na Gávea às 19h pra anestesiar a dor com um destilado, um limão bem amargo ou a merda da pipoca com o Guaraná - único casal legal que, até aqui, permanece unido.

Sinto muito. Sinto por vocês e continuo sentindo muito por mim, pelo risotto que ficou sem gosto e pelo Tang que só serve para empurrar goela abaixo a pipoca sem sal. Como você disse, parece que não vai parar de doer nunca. Mas passa! Até uva passa (casada há anos com o panetone. Casal chato pra caralho!).

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