O mundo é bão, Batistão




Não quero que esse texto soe como autoajuda. Quando eu der a entender que sou uma pessoa perfeita te ensinando a ser feliz, feche a aba e não continue a leitura!

Ser feliz dá um trabalho do cão. Está aí o Batista, porteiro do prédio em que eu trabalho, que não me deixa mentir. Aliás, uma grande pena que o Batista não pareça o tipo de pessoa que lê alguma coisa além daquele jornal miserável que ele segura. Adoraria que ele soubesse o quanto aquela cara de poucos amigos me dá pena. Mas tudo bem, eu escrevo mesmo assim.

Essa cara de bunda que você arrasta como um fardo, é o reflexo da vida que você não muda, dos sonhos que você não tem, da inércia a qual você se colocou. É a comodidade de um emprego que você odeia, com o fluxo-entra-e-sai-sem-parar de pessoas que você não suporta, fazendo coisas pelas quais você não se interessa. O que isso interfere na minha vida, Batista? Sua infelicidade me dá embrulhos no estômago. É nisso que interfere. Todos os santos dias em que dei “bom dia” ao nada, sem resposta, tive vontade de segurar sua cabeça pelas orelhas e te mandar ser feliz. Homem de Deus, vai dançar um funk, um arrocha ou, sei lá, mexe a cabeça com System Of A Down. Vai fazer cupcake, pão italiano, pizza, cachaça artesanal, um filho, sei lá. Vai costurar uma tarrafa, vender anel de coco, fazer tatuagem de henna na praia...Mas sai dessa recepção.

Ninguém merece ser conivente com a sua infelicidade. A grosseria é o de menos, sabe? Lido com gente bem mais casca grossa que você, acredite. O seu problema é outro! E ele é meu também, enquanto dividirmos o mesmo ar. Não me force a achar que “o Batista é um mal educado”. Seu potencial de sorrir é ligeiramente proporcional ao meu. A diferença é que todas as vezes que entro no elevador, sei que ali começa minha chance de ser agradável com meus colegas de trabalho, com quem liga pro meu telefone esperando por educação, e tenho total consciência de que os meus problemas não devem ser carregados por nenhuma dessas pessoas. Estar ali, naquele elevador, rumo a última sala do terceiro andar, preenche todas as expectativas de que meu dia vai ser, com o perdão da palavra, bom pra caralho. E aí eu lembro que sexta-feira está logo ali, e vou poder jantar com meu namorado e meus amigos, assistindo desenho.

Incluvise, esses dias meu namorado disse a brilhante frase enquanto me levava pro trabalho: “gente mau humorada deveria ser proibida de sair de casa”. Que ideia genial! Aliás, meu namorado é uma das pessoas que me inspiram a insistir no “bom dia” sem resposta aos Batistas com quem convivo. (Obrigada, amor.)

Sabe, ser feliz é mesmo difícil. É um exercício diário, uma aposta às cegas e, mais que isso, identificar a felicidade é a mais complicada das tarefas. Mas ainda assim, é o melhor jeito de não passar por essa vida sendo um espectador da alegria alheia. Anime-se! O mundo é bão, Sebastião. Batistão. Chico. Ana. Denise. João...  

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