Para meu amigo Renan

Eu tinha só vinte e dois anos e você ainda estava na faculdade. Eu experimentava a vida aos goles e você degustava tudo pela primeira vez, como quem só abre o apetite antes do banquete.
Você sempre foi o filho estudioso, o amigo que recusava a sexta-feira em claro por um TCC impecável, mas de alguma forma se fazia presente. Eu, no entanto, fui uma filha ao avesso, aluna sem disciplina, ser humano sem um GPS traçando a rota das metas e daquelas pessoas que respondem mentalmente o Whatsapp. Sim, você é meu oposto.
Não acho que fomos apresentados por intermédio de alguém. Sim, fomos. Mas não, não fomos. Entende? Nos conhecemos através do destino e graças à ele. O que vivemos a partir daí atribuo às tranças e aos laços que fizemos com tudo o que nos une.

Lembro tão bem de você com carinha de menino, estacionando um carro  - minúsculo - cheio de gente, na frente da minha casa, chuva que não acabava mais! Eu ainda não te conhecia, mas carregava duas garrafas de vodka embaixo do braço, sem a menor consciência de que passaria os próximos quatro anos entrando naquele carro de novo, com os mais diversos destinos, nas mais diversas companhias - algumas que entraram e saíram da nossa vida, deixando e levando muito pouco. Contamos essa história um milhão de vezes, pra mais de um milhão de pessoas. E eu acho que nunca vou cansar.

Hoje você usa terno e gravata de segunda à sexta e eu, por insistência ou teimosia, acabei usando meu GPS de metas e segui teu caminho em direção à disciplina. Estou alcançando meus sonhos e, a melhor parte disso é poder dividir contigo as conquistas e os per causos de ser quem eu acabei me tornando.

No caminho pro trabalho, hoje, pensei em te escrever essa carta. Sem motivo, só porque achei que você merecia ter meu amor publicado, reforçado, oficialmente. Quando te encontrei pro almoço, como fazemos todos os dias, você me lembrou que no dia de hoje comemoramos exatos quatro anos de amizade.

Não é lindo isso, de ter por quem contar os dias e gravar datas? Estamos juntos, Renan. Juntos desde dois mil e onze, onde calçávamos tênis em quase todos os lugares que íamos sem um tostão furado no bolso, até hoje, dois mil e quinze, ano em que posso finalmente te dar carona e você, me defender nos tribunais da vida. Ainda sem um tostão furado, é verdade, mas quem se importa?

Eu amo você e toda essa vida bagunçada que estamos dando um jeito de arrumar com o tempo. Continue me usando como ombro amigo, e eu vou continuar te tendo como braços e pernas direitas. E esquerdas. E como tronco. E como raízes. Ah, você sabe!

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