Alô, The New York Times!

Lembro bem do dia em que mandei meu currículo para o The New York Times. Eu devia ter dezoito, não lembro bem. Nem no jornalismo eu estava ainda. Lembro que mandei currículo pra Rede Globo também, porque podia ser difícil demais fazer a mudança pra Nova York, e São Paulo era ali do lado, mais pertinho. Nas fichas de inscrição do NY Times eu provavelmente respondi às perguntas com um inglês de Russo analfabeto; Na Globo eu tirei onda de escritora. Escrevi a vida naquelas linhas.

Com certeza naquele dia eu fiz o RH do NY Times mais feliz. Que eles riram daquela criança com sonho de escrever para um jornal grande, eu não tenho a menor dúvida.
"Willing to travel?". "Of course! Really, really willing. A lot!"
Que coisa! Hoje eu pensaria antes de responder. "Porra, viajar? É pra escrever enquanto viajo ou sobre a viagem? Vocês vão me transferir pra onde? Mas aí tem que ver, né? Vou de avião? Porque assim ó, de ônibus não rola, eu tenho pressão baixa..."

Soa quase ridículo ter sonhado assim, eu sei. Mas me orgulho daquela pessoa que eu era. Hoje, com cem gramas a mais de bagagem e com um inglês menos bizarro, não teria escrito metade do que escrevi aos dezoito. A mesma idade que me permite realizar sonhos, é quem os corta pela raiz com uma crueldade sem tamanho. Não é contraditório isso?

Cresci e deixei pela estrada toda aquela coragem e todo aquele "foda-se". Não tive medo de parecer ridícula com meu inglês mal escrito, nem de me oferecer para uma vaga disputada carregando pouco mais que um diploma de ensino médio embaixo do braço. Eu não pensei em como seria se aquela loucura desse certo. Não sabia que um editor poderia comer meu fígado com barbecue no meu primeiro erro. Eu não tinha medo. Confiava em mim e no que eu julgava saber fazer.

Hoje, depois de muito beber realidade de canudinho, copo atrás de copo, tenho mais medo do sucesso do que de fracassar. Posso escrever um livro - mas e se não vender nada? Putz, mas e se vender muito, como é que vai ser? Posso fazer um vlog. E se ninguém assistir? Deus! E se todo mundo assistir e me julgar? Posso pedir demissão. Mas e se eu não conseguir nada melhor? Porra, e se for melhor, eu ganhar mais e, isso me exigir demais? Posso cozinhar comidinhas boas. Mas e se ninguém comprar? E se comprarem tanto a ponto de eu parar de viver para alimentar estranhos? Preciso pensar. Preciso planejar isso melhor. Preciso colocar em uma planilha.

Preciso conversar com meu "eu" de quase nove anos atrás. Ela deve ter uma solução. Isso se ela não estiver ocupada demais com os sonhos que realizou enquanto eu, iludida, tentava ser realista.


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