Sobre ser mais cachorro e menos humano



É vespera de Natal e eu escolhi essa foto e esse amor pra falar. Primeiro porque não há no mundo amor igual. Segundo porque, lembrar disso tem tudo a ver com essa época e terceiro, porque nós, humanos, temos ainda tanto a aprender com eles!

Com a Chloe tenho aprendido sobre confiança. Nunca fui o tipo de pessoa que se joga em relações - de amizade ou amorosas, sempre precisei ver com os meus olhos, sentir aos poucos, caminhar sob ovos. A Chloe não! Ela corre com toda a força, pula em você e é bom que aguentes, porque ela está confiando nisso. Nós a colocamos na cama dela toda noite, depois de pegar no sono na nossa cama. Rapaz! Ela desmaia no nosso colo e vai derretida até a cama. Isso é confiança! Sempre que vamos embora, falamos ˜já volto˜. E ela? Acredita.

Como se só isso já não bastasse, ela ama sem tamanho. Ela ama grande, muito grande. Não lembro de uma tarde nos últimos tempos em que ela não estivesse onde eu estava. Nós, seres humaninhos, às vezes temos esse hábito bobo de enjoar das pessoas, das coisas, precisamos de um tempo só. Ela não. Tempo bom é tempo gasto comigo e Alê. Nem precisa de grandes coisas, grandes passeios, grandes eventos. É só a companhia, a atenção e a confiança de poder dormir tranquila aninhada nos meus pés. (Nesse momento ela está parada, me olhando, como quem pergunta: Hein? Que tá fazendo aí? Hein? Posso ver? Me mostra?). E ela consegue amar a todos! Ela te amaria em dois minutos, inclusive.
Ela não tem vergonha, também. Nem de fazer festa quando volto, nem de ficar me olhando pela janela quando saio. Ela não tem vergonha de nada aliás, e isso é mais uma coisinha que precisamos reforçar na apostila da vida humana feliz.

Chloe tem uma sensibilidade que talvez eu nunca tenha visto antes. Se eu choro, ela lambe cada lágrima até que eu comece a rir. E não tem como não rir, vai por mim. Ela dá pequenas pausas na lambida e fica te encarando muito de perto - coisa de uns 5 centímetros cara a cara. Nada? Volta a lamber. Parou de chorar? Ela se aninha bem perto e fica ali.
Quando eu sinto alguma dor física, ela se aproxima, me lambe as pernas, cutuca com o focinho, late, faz a socorrista do SAMU e depois, de novo, se aninha muito perto.

Todos os dias eu vejo notícias ruins pela TV, pessoas agindo como primatas nos lugares onde frequento e não frequento. As pessoas tem ficado espantadas com bons modos, carinho, respeito, educação. Nos enfiamos em confusão no trânsito por falta de paciência, em fila de supermercado, em fila de aeroporto, em qualquer bendito lugar em que formos. E não tem uma única vez em que eu não pense: a Chloe nunca teria feito isso.

Temos tanto a aprender com os animais! Precisamos desesperadamente aprender a amar sem medidas. Precisamos ser mais fiéis uns com os outros, perdoar, respeitar, esquecer mágoas. Precisamos ser boas companhias, falar menos mal das pessoas, se importar menos com o que o outro veste-fala-faz, desapegar de bens materiais. Não sei como os cachorros se identificam, mas apostaria dinheiro como eles não pensam nada quanto a cor do pêlo, nem a marca da roupinha de inverno, se é de raça nobre ou de rua. Cachorro não usa sapato, não tem bolsa cara e prefere ir correndo a ir de carro. Cachorro não tem nada além do nós, umas garrafas pet e algum brinquedo de estimação.
Mais coisas pra apostila, não? Temos coisas demais que servem pra tão pouco. Temos miseravelmente pouco o que eles tem de sobra.

Deus! Se um dia viemos do macaco, vai na minha, da próxima vez aposta nos cachorros. Evoluir deles não poderia dar errado. Reseta tudo e tenta de novo. Usa o molde da Chloe, da Kiara, da Lilí, do Fred, do Puff, do Ringo, do Maguila. Sério! Não consigo pensar em nada melhor pra hoje. 
P.S.: se usar os moldes da Chloe, não esquece de deletar a função "mastigar chinelos-madeira-aço-tecidos-plástico-pedra...".

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